segunda-feira, 28 de março de 2011

Mas só muito mais tarde, como um estranho flash-back premonitório, no meio duma noite de possessões incompreensíveis, procurando sem achar uma peça de Charlie Parker pela casa repleta de feitiços ineficientes, recomporia passo a passo aquela véspera de São João em que tinha sido permitido tê-lo inteiramente entre um blues amargo e um poema de vanguarda. Ou um doce blues iluminado e um soneto antigo. De qualquer forma, poderia tê-lo amado muito. E amar muito, quando é permitido, deveria modificar uma vida – reconheceu, compenetrado. Como uma ideologia, como uma geografia: palmilhar cada vez mais fundo todos os milímetros de outro corpo, e no território conquistado hastear uma bandeira. Como quando, olhando para baixo, a deusa se compadece e verte uma fugidia gota do néctar de sua ânfora sobre nossas cabeças. Mesmo que depois venha o tempo do sal, não do mel.

domingo, 27 de março de 2011

Por lá caminhei entre flores e folhas, entre terra e sonhos. Escutei o canto dos passarinhos durante o dia e o barulhinho de grilo pela noite estrelada e pelas ruas vazias. Estive ao lado de algumas pessoas desconhecidas, e a maioria do tempo ao lado de várias queridas. Encontrei paz nos dois mudos que viajaram ao meu lado, na menininha bonita que não cansava de olhar pra estrada, e nos hippies que não troquei uma só palavra. Senti mais uma vez como algumas pessoas são de natureza especiais, e que o presente da família que recebemos quando viemos ao mundo não é em vão. Deixei quase tudo pra trás, me conectei com coisas simples e mergulhei nesse mundo tão perto e ao mesmo tempo tão afastado daqui. Ah! por alguns dias eu esqueci de tudo; e por vários momentos eu quis não voltar.

In liquid



Não vires caco, sejas onda.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Escândalo

Ó doce irmã, o que você quer mais?
Eu já arranhei minha garganta toda
Atrás de alguma paz.
Agora, nada de machado e sândalo.
Você que traz o escândalo,
Irmã-luz.
Eu marquei demais, tô sabendo
Aprontei demais, só vendo
Mas agora faz um frio aqui.
Me responda, tô sofrendo:
Rompe a manhã da luz em fúria a arder
Dou gargalhada, dou dentada na maça da luxúria
Pra quê?
Se ninguém tem dó, ninguém entende nada
O grande escândalo sou eu aqui, só.
Eu marquei demais, só vendo
Aprontei demais, tô sabendo
Mas agora faz um frio aqui.

sábado, 12 de março de 2011

Era de Aquario. Que sejamos fadados à grandeza, ou à loucura.


Certas vezes me vem uma grande vontade e necessidade de mudança ou de simplesmente ir embora, viver outra vida longe das pessoas que já conheci. Conhecer pessoas novas em lugares novos, porque não? Há coisas que me entristecem, como o fato de minha geração não tentar lapidar o meu país como fez a geração dos nossos pais. Viver e suportar esses problemas que o mundo e os jornais esfregam na nossa cara dando risada é completamente devastador. As pessoas estão estáticas, conformadas com o pouco, com o nada; as pessoas se esqueceram dos ideais de paz, amor; ninguém se importa com o meio ambiente, nem com quem está ao redor. Essa não é a vida que eu quis, ainda que o mundo inteiro acorde quando vamos dormir. Tai o grande problema - o sono, a inércia. O tempo em que o mundo passa inérte dormindo, poderia ser o tempo de extravasar os sentimentos reclusos, de compartilhar sonhos, de desenvolver o amor e combater esse individualismo abjeto. Sinto saudades do mundo que imaginei pra mim - as vezes ele me foge da memória. Sinto saudades do tempo de querer bem. É tanto rancor e medo. O mundo está maltratado, as pessoas estão maltratando as pessoas, as pessoas estão maltratando o mundo, o mundo está maltratando as pessoas. Espero que esse ciclo seja drásticamente rompido. Mudem, exerguem a vida de um modo mais pacífico, mais irreverente, mais aquariano.